terça-feira, 8 de janeiro de 2019

CRÍTICA ROMA


Não se enganem. O filme do já consagrado diretor Alfonso Curón, Roma, é para quem gosta de cinema. Só assim para se entender a obra-prima que o mexicano produziu e que merece toda a louvação que se possa dar. Já levou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro no último domingo (6) e, sinceramente, deveria levar o Oscar também.

A história de Cleo (Yalitza Aparicio), doméstica de uma família de classe média, se passa na Cidade do México no final da década de 1960, começo de 1970, num bairro que se chama Roma, e discorre sobre o dia a dia não só dela, como também da família para que trabalha. E tudo é impecável. Cuarón realmente nos transporta para dentro da narrativa. Veja: a música que se ouve é a do radinho de pilha de Cleo, que ela acompanha cantarolando, ou a do rádio do carro. Os barulhos comuns do cotidiano estão presentes o tempo todo, como o avião voando acima, os latidos dos cachorros, o afiador gritando na rua, a banda que passa tocando. Tudo nos é apresentado de forma sutil, como a corrupção – ouvimos ao fundo, num bairro miserável, uma campanha eleitoral prometendo uma melhora de vida para seus moradores - e a bandidagem – uma manifestação pacífica de estudantes se torna um caos após revoltosos se infiltrarem e começarem uma matança. Até a fotografia em preto e branco parece fazer parte de tudo e completa a obra.

A opção de Cuarón pela câmera estática também nos passa uma noção maior de realidade. É como se estivéssemos ali, parados, observando os acontecimentos, ora no canto da sala de estar, ora no portão da casa... E um surrealismo bem colocado é de impressionar, como o fato de os personagens ricos dirigirem bem mal e não se importarem em degradar seu patrimônio.

Cuarón nos mostra também sua capacidade de construir muito bem a relação entre seus personagens, mostrando o amor de Cleo pelos filhos da patroa, sua amizade com a colega de trabalho, sua inocência em relação aos homens, e como empregada e patroa podem se nivelar em certos aspectos – por exemplo, ambas foram abandonadas por seus homens.

Roma é daqueles filmes que ficam na cabeça durante muito tempo, instigando. Isso é cinema. É sensacional.

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