terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

CRÍTICA "DIRTY JOHN" - PRIMEIRA TEMPORADA


Seriado é uma crítica aberta à sociedade atual
Dirty John, série original da Netflix criada por Alexandra Cunningham, pode nos levar a uma discussão filosófica que nunca irá se esgotar, sendo uma crítica incontestável à sociedade atual.
Tudo começa quando Debra (Connie Britton), uma bonita e talentosa design de interiores de meia idade e mãe de três filhos, Trey (Jake Abel), Veronica (Juno Temple) e Terra (Julia Garner), cria um perfil em um aplicativo de relacionamento e, após uma série de encontros decepcionantes, acaba conhecendo John (Eric Bana). Ele é lindo, charmoso, tem bom papo e, sem esforço quase nenhum, a conquista. Até aí tudo certo, não é? Mais ou menos, porque o homem acaba se revelando um psicopata perigosíssimo.
Em 2003, em seu livro Amor Líquido, o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman já escrevia sobre os relacionamentos modernos. Estamos em 2019, e de lá pra cá, as coisas nesse sentido parecem não ter mudado muito do que disse o pensador. De fato, Cunningham parece ter adaptado para as telas uma versão mais palatável da obra do polonês, já que praticamente todas as formas de relacionamento estão retratadas no seriado.
A diferença entre as duas narrativas, entretanto, reside no fato de que Bauman fala dos relacionamentos de forma analítica e geral, demonstrando como estamos ficando cada vez mais sozinhos em um mundo cada vez mais conectado. Já o seriado trata das suas consequências de uma forma mais imediata e concreta, soando mais como um alerta: cuidado com quem você deixa entrar em sua vida e cuide daquelas que já fazem parte dela.
E é incrível como um tema tão complexo pode ser retratado de forma tão simples, como fez Dirty John, e vários elementos contribuem para isso.
O cenário em que se passa história - a ensolarada Califórnia -, funciona de duas maneiras diferentes. Por um lado, seu clima mais alegre e descontraído, serve para encaixar bem o personagem “malvestido” de Bana (Tróia – 2004), que praticamente só usa bermuda, e a de Temple (Malévola – 2014), uma típica patricinha californiana e uma das personagens mais interessantes de todo o enredo. Por outro lado, ameniza o clima tenso que inevitavelmente acompanha os temas psicopatia e drogas – já pararam para pensar no significado de Dirty John?
A personalidade calma e serena de Debra diante das desventuras que ela começa a passar também parece retirar bastante a tensão da situação em que ela se encontra, e até desvia a atenção da seriedade da coisa toda, chegando até a causar uma certa ansiedade. Ao mesmo tempo, pode ter sido o que salvou a sua vida e manteve sua família unida.
A narrativa segmentada, com flashbacks bem colocados, também contribui para dar uma aura de suspense, o que é muito bem-vindo. Do contrário, a história poderia ficar bem maçante, já que as cenas de ação são praticamente nulas.
Levando tudo isso em consideração, o melhor do seriado é que ele não tenta impor nenhuma teoria. Simplesmente trata de um tema delicado e joga a bola para o espectador tirar suas próprias conclusões, afinal, os relacionamentos, em especial o amoroso (que é o foco de Dirty John), não têm uma fórmula certa a ser seguida e, querendo ou não, estamos na era digital. E aí? Vai arriscar?

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