Filme de Dan Gilroy na Netflix é uma conversa
fria, surreal e crítica entre duas artes.
É
de conhecimento notório e geral que o Cinema é considerado a sétima arte,
juntamente com outras (que não se pode ordenar, já que cada indivíduo possui as
suas preferências) a saber: a Música, a Dança, a Pintura, a Escultura, a Literatura e o Teatro. O que Dan Gilroy fez em Velvet Buzzsaw foi juntar a imagem
em movimento (Cinema) com a imagem estática (Pintura), numa conversa artística
que, em termos visuais, é simplesmente maravilhosa.
Jake Gyllenhaal (O Dia Depois de Amanhã, 2004 – O Segredo Brokeback Mountain, 2005)
é um respeitado crítico de arte cujo olhar e impressões têm o poder de destruir
a carreira de um artista ou elevá-lo ao estrelato e à riqueza. A primeira cena
do filme já nos coloca em contato com o mundo da arte, quando ele vai à uma
exposição encabeçada por Rhodora, personagem de René Russo (Thor, 2011), uma poderosa dona de
galeria.
Entretanto, a trama começa quando Josephina (Zawe
Ashton – Animais Noturnos, 2016),
que trabalha para Rhodora, encontra um misterioso vizinho morto. Seu nome era Ventril
Dease. E é aí que as críticas propostas pelo diretor começam.
Movida por uma curiosidade que só podemos chamar de
mórbida, Josephina simplesmente adentra o apartamento do morto... sem qualquer
tipo de autorização. E lá, ela encontra uma verdadeira mina de ouro em forma de
pinturas.
Ao que parecia, Dease era um verdadeiro artista,
cuja visão era definitivamente macabra. Cenas de terror se desenrolavam em
frente aos olhos de Josephina, telas lúgubres e escuras que retratavam uma
mente doentia. Não que aquilo não fosse arte, mas ela só enxergou uma coisa ali:
dinheiro. E da mesma forma que entra no apartamento – sem autorização -, ela se
apossa das pinturas.
Do que se sucedeu depois de Josephina mostrar seu
achado para Morf (Gyllenhaal), e em seguida para sua empregadora, Rhodora, dá
para traçar o caráter de cada um. E o que vemos, não é lá uma coisa muito boa.
Desenvolve-se, a partir daí, uma história que mistura terror, investigação,
assassinato, surrealismo e até comédia (cortesia de Gyllenhaal, que está
excelente em seus trejeitos).
Mas a verdade é que tudo em Velvet Buzzsaw exala arte – as tomadas externas da cidade, o
figurino dos personagens, a decoração de seus apartamentos, casas e galerias –
e no entanto, é tudo uma crítica, uma sátira para demonstrar o quanto esse
mundo é frio e vazio. A arte deveria encantar, arrebatar, despertar sentimentos.
Mas na realidade, quem agora dita o que é arte? Essa é a grande questão
colocada por Gilroy. Ainda podemos acreditar no conceito kantiano sintetizado
na expressão “arte pela arte”? Podemos ainda acreditar no poder do belo e do
artístico, captados pelo olhar dos mais sensíveis (como Morf)? Ou ele foi
subjugado por uma outra, denominada “a arte pelo dinheiro”? Seria isso certo ou
errado? Ah, essas questões retóricas...